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segunda-feira, 25 de março de 2013

Teoria e Prática na dança a dois


TEORIA E PRÁTICA NA DANÇA A DOIS
Imagine que você queira ser, por exemplo, um carpinteiro. Você pode se matricular em um curso de carpintaria. Nas aulas, você receberá determinado tipo de material, ferramentas e exercícios para aprender para quê serve cada ferramenta e como usá-las, sob a orientação de um professor. Só isso fará de você um carpinteiro bem sucedido? A resposta é não. Para desenvolver as técnicas aprendidas no curso é preciso muita prática. Você terá que experimentar os diversos tipos de matéria prima, descobrir sozinho novas formas de utilizar as mesmas ferramentas, talvez inventar ou conhecer outras. Irá errar e acertar muito até adquirir um nível de experiência que faça de você um carpinteiro com resultados de qualidade em qualquer material e um estilo próprio. A dança a dois não é diferente. Fazer aulas é importante para que você aprenda a conhecer sua matéria prima - seu corpo e o do(a) parceiro(a) - e as ferramentas (a técnica, os passos, a postura) que você usará na atividade. Porém, somente as aulas não farão de você um dançarino competente. Para isso você precisará da prática, os bailes. É ali que você estará por sua própria conta, sem coreografia determinada e com uma variedade de parceiros(as) a que precisará aprender a se adaptar e como se comunicar. Dançando sempre com os mesmos parceiros (como os colegas de sua turma), você limita suas habilidades. Uns já conhecem a linguagem corporal e as limitações dos outros. Os cavalheiros pasteurizam sua condução e as damas limitam sua leitura corporal. Por isso, quando dançam com desconhecidos sentem que a comunicação não flui igual e culpam o parceiro, quando o problema está neles mesmos. A dança a dois é um diálogo e não difere muito da linguagem falada. Se você se comunica somente com um pequeno círculo de pessoas, esse grupo tende a desenvolver uma linguagem própria, plenamente compreendida entre seus participantes, porém sujeito a interpretações erradas pelas pessoas de fora. Para ser bem entendido por qualquer grupo e compreender o que querem dizer, você precisa expandir sua habilidade de comunicação, conversando também fora de seu círculo. Principalmente, você precisa aprender a ouvir e compreender uma variedade de pessoas de grupos diferentes, vivenciar outras experiências, aprender novos vocabulários. Até dentro de um mesmo idioma existem sotaques e expressões diferentes que você pode aprender a usufruir, acrescentando histórias e temas para enriquecer sua bagagem. Tudo na vida evolui, tudo está sempre se reinventando. Quem acha que não tem mais o que aprender, está dando o primeiro passo para a estagnação e em breve será ultrapassado. Muitas vezes um veterano pode descobrir uma novidade quando interage com um iniciante, que tem a capacidade de ver de uma forma diferente aquilo que para o primeiro já é um vício adquirido. É sempre prazeroso interagir com quem tem um nível de experiência igual ou superior ao nosso, porque não requer nenhum esforço ou empenho de nossa parte. Por outro lado, a sabedoria popular diz que tudo que a gente não usa, tende a se atrofiar. Isso também se aplica a nossas habilidades. Vejamos isso aplicado à dança a dois: quem só dança com parceiros habituais ou pessoas com maior habilidade que a sua, pode descuidar da comunicação porque o outro vai entender qualquer pequeno indício. Quando falo de comunicação, isso se refere à condução para os cavalheiros e à leitura corporal para as damas. Com uma dama muito experiente, o cavalheiro não precisa usar uma condução apurada; com um cavalheiro muito experiente, uma dama não precisa estar atenta à linguagem corporal. Entre parceiros constantes, inconscientemente as sequências coreográficas ficam meio ensaiadas. Quando a pessoa fica por muito tempo preso a esses padrões e um dia resolve se comunicar com uma pessoa desconhecida, não funciona da mesma forma porque essas habilidades requeridas (condução e leitura corporal) estão sem prática e se atrofiaram. Já aconteceram incontáveis vezes de um cavalheiro que se julgue muito experiente tentar “ensinar” a uma nova parceira de dança um determinado movimento e ela escutar pacientemente (ou não), sabendo que não o executou porque não foi conduzido ou foi conduzido de forma equivocada. Também acontece muito de uma dama que se considera avançada reclamar da condução de um cavalheiro, quando ela é que se habituou a ser conduzida de uma determinada forma e desaprendeu a leitura corporal. Dançar com parceiros iniciantes tem a vantagem de nos proporcionar a oportunidade de exercitar essas habilidades, porque exigem nossa atenção. Se um cavalheiro experiente dança com uma iniciante, sua condução precisa ser clara e completa. Se uma dama experiente dança com um cavalheiro iniciante, precisa concentrar-se em sua linguagem corporal para entender a intenção mais do que a condução, que pode não ser tão eficiente. Ambos precisam também trabalhar a habilidade do improviso para manter o fluxo da dança quando um passo não dá certo, a fim de não constranger o parceiro na pista de dança. Outra vantagem é relembrar as habilidades e passos básicos, que com o tempo são esquecidos e executados de maneira sofrível, quanto mais sofisticados ficam os movimentos complexos. Vejo muitos dançarinos e dançarinas que executam lindos ganchos, colgadas e volcadas, porém não sabem mais executar uma simples caminhada. Portanto, amigos dançarinos e dançarinas, antes de criticar seus parceiros e parceiras iniciantes, questionem se suas próprias habilidades básicas de comunicação por acaso não se atrofiaram – e usem a oportunidade para exercitá-las e ajudar alguém a melhorar. Em tempo: não critiquem ou tentem ensinar na pista de dança de um baile - isso é uma atitude grosseira, arrogante e deselegante. Para isso existem as aulas. Você pode transmitir experiência simplesmente dançando e usufruindo do prazer de bailar ao som de uma bela música com uma companhia agradável. É muito fácil dançar bonito fazendo passos elaborados, porém são raros os que têm a habilidade de executar um passo básico com musicalidade, beleza, sentimento e leveza. Assim, quando essa pessoa transformar-se em um(a) excelente dançarino(a) e você quiser compartilhar uma dança mais complexa, ele ou ela sempre se lembrará de como foi tratado(a) quando estava iniciando e de quem lhe proporcionou a condição de praticar nos bailes o que aprendeu em aula, possibilitando sua evolução na dança.
Nilce Alves Oliveira