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quinta-feira, 12 de julho de 2007

HISTORIA DO TANGO



Meus amigos! Vou iniciar, transcrevendo a História do Tango, em textos , escrito pelo jornalista Jorge Montes.

O TANGO É AFRO?

O tango, como os que o geraram e conduziram seus primeiros passos, vem da periferia, dos arrabaldes da cidade de Buenos Aires, que se confundia com o pampa. Nasceu órfão e à margem da elite, embalado por um slogan que se tornou axioma: "do fango vem o tango". É impossível determinar com certeza a data em que viu a luz pela primeira vez, nem quem possa ter sido o seu pai, porque é resultado da mistura de diversos condimentos e sabores, dentre os quais os mais importantes são: o canto e a dança dos negros da Buenos Aires colonial, a "habanera" (na Europa, chamada de tango americano) e do "tanguillo" andaluz.
Nos bailes dos negros, marcando a coreografia do candombe, o som da pele do tambor deu-lhe o nome: tan-gó. O eminente musicólogo Ortiz Oderigo opta pela corrente africana ao afirmar que o nome tango constitui-se numa corruptela do nome Xangô, deus do trovão e das tempestades na mitologia dos Yorubás da Nigéria (Africa Ocidental), onde Xangô também era o nome do tambor usado nos rituais. Como afirma Jorge Luiz Borges: " O tango é negro na raiz".
Este tom escuro resulta na mais evidente cor racial do tango, porque , em 1865, o ator canadense residente em Buenos Aires, German Machay, cuja formação shakespeariana deveria mantê-lo afastado dos ambientes frequentados pela gente de raça africana, parodiava seus gestos e linguagem, personificando comicamente o Negro Schicoba, na interpretação de canto e dança chamados tango. Mesmo que estivesse longe do compasso que foi mudando com os anos, o ritmo da canção entoada por McKay, cuja partitura ainda existe, viria a fazer do velho candombe a dança oficial dos negros: o Negro Schicoba, escrita em 2/4,mostrava, em seus compassos de "habanera", certos traços do que viria a constituir-se o som e a estrutura musical do tango.
No século passado eram populares várias espécies de tango: o "tango andaluz" (1855-1880), o "tango cubano" e outras variedades. Os conhecidos como "tangos africanos" eram interpretados pelos artistas das companhias espanholas que atuavam na cidade e entravam em cena caracterizados de negros, tal como fazia McKay e outros atores americanos , animando os minstrelsy, espetáculos onde artistas brancos pintados de negro parodiavam seu canto e sua dança. Várias décadas depois, em 1927, Al Johnson continuava essa moda, fixando nas telas esta caracterização ao interpretar " cantor de jazz", filme que inaugurou a era do cinema falado.


O TANGO ALEGRE

" A fase do tango alegre alcançou sua maior intensidade no bairro da "Boca", que - segundo José Sebastián - entre 1916 e a 1918 era o centro noturno do tango típico e de outras "diversões" extras. Assim ele o descreve: "Um bairro de glutões, bêbados e de prostituição. Os restaurantes, botequins e adegas dividiam a clientela entre as desordens, a loucura, os hóspedes clandestinos, prostíbulos, cafés-conserto e bares. Cruzando a Riachuelo, chega-se à ilha Maciel. Lá ficava "El Farol Colorado", famoso bordel onde eram projetados filmes pornográficos para animar o baile. Nestes lugares, o tango era uma coisa de machos, assim como uma dose dupla de absinto ou uma punhalada. Entretanto, outro ensaísta famoso, o uruguaio Daniel Vidart, reconhecendo e aceitando a infância cansada do tango, explica: " Mas o tango também foi dançado pelos carregadores, feirantes, lixeiros e peões, e foi a música das lavadeiras, passadeiras e costureiras dos cortiços: e foi cantado nos prostíbulos, sim, mas foi também o vento jovem das praças, a alegria das esquinas, a música das pianolas e a campainha dos bondes dos operários".

Tango é cultura, vamos conhecer o tango.


O TANGO, TANGO.

“Depois de resgatar da névoa obscura do tango e dos ensaios intelectuais todas estas teorias, o fato mais legítimo que possuímos a respeito do nascimento do tango, tal como hoje o conhecemos, é que esta dança passou a brilhar suas filigranas milongueiras nos bailes do sub-mundo, que aconteciam na periferia e arrabaldes de Buenos Aires: Corrales Viejos (hoje conhecido como Parque Patrício), Bateria (hoje , Retiro), Santa Lucia, em Barracas Al Sur (hoje Avellaneda) e em Ricoleta, onde hoje existe o aristocrático parque com o mesmo nome. A proximidade com o pampa de Buenos Aires frutificou nos muitos títulos de tango com termos campestres: La Tablada, El Cencerro, El Buey Solo, La Trilla, Bataraz, El Baqueano, La Huella, e outros. Os vaqueiros e carreteiros que vinham do pampa trazendo gado, ao chegarem à periferia da capital, trocavam seus trajes de gaúcho por outra roupa mais urbana, em lugares feitos especialmente para esse fim, e logo entravam na cidade, já então com as roupas pitorescas dos malandros do subúrbio.
Este elemento lumpen era o senhor dos arrabaldes, composto de compadres, malandros e arruaceiros. Esses personagens semoviam no cenário feito de casas de danças e bordéis baratos. É aí onde começa a trajetória do tango que o levará a alcançar a primeira etapa de sua identidade musical, quando sua orquestra típica “criolla” é criada. Do contato infame com os bordéis, aparece uma série de títulos com duplo sentido: “El Choclo”, “La Flauta de Bartolo”, “La Cara de la Luna”, “La Budinera”, “Dame la Lata”, “El Serrucho”, “El Queco”, “Aqui se Vacuna”, “Che”, “Sacámele el Molde”, “Três al Hilo”, entre outros.
Esse ambiente fez com que o tango fosse umamúsica proibida. Não só pelos personagens e lugares onde era executado, mas também pela maneira dos pares dançarem, tão agarrados, dando-lhe um caráter erótico e carnal difícil de se disfarçar. Claro que se tratava de um pecado nem sempre palpável, já que para um bom bailarino o tango constituía-se num rito de respeitável liturgia. Carlos Veja, profundo estudioso da dança universal, expressava, num artigo publicado pelo jornal “La Prensa”, em 54, referindo-se à sua coreografia solene: “Dançar (tango) é algo grave e profundo; os interesses da espécie se acendem em seu vigor e inspecionam sua eficácia. Quando se dança não se ri.” E mais adiante: “Era necessário voltar à dança. Em algum lugar do mundo, num ambiente afastado, haveria de ser realizado este baile salvador. E isto aconteceu. Homens de todas as classes sociais e anônimas mulheres de bordel promoviam seu nascimento: entre ligas à mostra e facas escondidas, a cidade de Buenos Aires paria a grande dança do século XX. Surgia o “tango argentino”. Apesar de sua inegável grandeza e da clara concentração do bailarino na pista a executar três ou quatro floreios, até uns 20 anos atrás ( e talvez até hoje ainda, em algum bairro afastado), em certos clubes ou bailes familiares, não faltava um fiscal, com uma lanterna na mão, zeloso a repetir até a exaustão: “Haiga luz!... Haiga luz!...” (solicitando que os casais se afastassem para que ele pudesse ver ao menos um facho de luz entre eles).